terça-feira, 26 de julho de 2011

Ceará e sua musicalidade



Depois da inversão feita por @caribeironeto e eu no último ciclo, voltamos ao que era antes. Porém, com um diferencial: escrevo este texto em terras cearenses (é não, é?*). Por conta disso, nada mais adequado – e justo – falar neste texto sobre a música feita por aqui.

Para começar, vamos tratar dos grandes nomes, ou ainda, dos músicos cearenses mais conhecidos. Talvez os dois maiores sejam Belchior e Fagner, os quais iniciaram suas produções musicais na década de 1970: o primeiro lançou ao todo 17 LP/CD e é considerado um dos grandes compositores da música brasileira, além de ter escrito canções que muito provavelmente nós já ouvimos ao menos uma vez como Apenas um rapaz latino-americano e Como nossos pais; já Fagner possui mais de 20 LP/CD lançados, solo ou em parcerias, compôs músicas como Borbulhas de amor – provavelmente seu maior sucesso – e Fortaleza – canção que homenageia sua terra natal. Fora isso musicou poemas de Fernando Pessoa e Florbela Espanca e fez parceria com seu conterrâneo Belchior, com a qual receberam o prêmio de melhor canção no Festival de Música Jovem CEUB, em 1971.

Independentemente da nossa vontade, é interessante perceber como naturalmente relacionamos um determinado gênero musical a um estado específico, por exemplo: funk > Rio de Janeiro, axé > Bahia e por aí vai. Pensar em Ceará é normalmente pensar em forró (assim como se pensa logo em brega/tecnobrega quando se trata de Pará), mas ainda bem que o equívoco é sempre constante nesses casos. E é nesse ponto que chegamos àquilo que tem sido feito mais recentemente.

Grata surpresa para mim, ao chegar aqui, foi saber que na atualidade existem bandas cearenses que produzem música na qual é possível perceber influências são somente de estilos musicais locais, como também de outras regiões do país. Nesse cenário atual, a banda que mais se destaca é Cidadão Instigado, criada em 1994 e que possui 1 EP e 3 CD’s lançados. As principais influências percebidas na banda são, além da música nordestina, os bregas românticos – presentes principalmente nas letras das canções.

Entretanto, algumas outras bandas locais também possuem uma produção musical muito boa – mesmo que o conhecimento disso fique restrito a poucos ou a um público basicamente local, infelizmente. Nessa minha pequena estada em Fortaleza, cinco nomes de bandas chegaram aos meus ouvidos: Selvagens à procura de lei (rock), Breculê (instrumental/experimental) e Renegados (hard rock / rock progressivo) – bandas as quais produzem sons completamente diferentes entre si e que estão na ativa, se apresentando em casas de shows locais. Fora essas três, mais duas – apesar de não estarem mais na ativa – também traziam à tona outras influências musicais que não se restringem apenas à música nordestina, mas também à guitarrada e ao carimbó, característico no Pará: Bonilas e Baque Lírico.

Muito se fala da capacidade, por exemplo, que o estado de Pernambuco tem de congregar e (re)criar sons únicos – até aqui mesmo neste blog eu já mencionei isto. Mas vou me retificar: não é somente Pernambuco que é capaz disso, Ceará também o é. E a justificativa está toda aí em cima. Vale (muito) a pena conferir.



*é não, é? >> expressão do cearensês simular ao "e não é" ou "é mesmo" xD



P.S.: Depois de quase quatro meses de postagens à distância, enfim os quatro responsáveis por este blog se reuniram \o/




Reclamações, sugestões e xingamentos, por favor, mais abaixo.

domingo, 17 de julho de 2011

"O Mensageiro Trapalhão" e a comédia de Jerry Lewis

Imagine você assistir a um filme onde a primeiríssima cena que aparece – antes mesmo dos créditos de abertura – é de um homem em um escritório que se diz ser o produtor-executivo responsável por todas as produções feitas na Paramount. Ele diz que, antes de mostrar o filme, é preciso explicar uma coisa: O filme que você está prestes a assistir não é comum como os que têm sido apresentados ao público de cinema atualmente. [...] É só um pouco diferente, pois não tem nenhuma história e nenhum enredo. [...] Na verdade, é uma série de sequências tolas ou, pode-se dizer, um diário visual de algumas semanas na vida de um verdadeiro louco. Em seguida, o tal produtor-executivo cai numa gargalhada tão insana quanto o resto do filme.

Esse é o começo de O Mensageiro Trapalhão (The Bellboy), um filme estadunidense de 1960 escrito, produzido, dirigido e estrelado por um dos maiores nomes do cinema de comédia, Jerry Lewis. Só o fato de ele exercer todas as principais funções de um filme sem noção como esse, já diz muito sobre seu estilo. Analisando outras películas escritas e dirigidas por Lewis, como O Terror das Mulheres (The Ladies Man) e O Mocinho Encrenqueiro (The Errand Boy), podemos perceber sua inclinação para um tipo de filme que dispensa enredo, sendo constituído principalmente de situações que não estabelecem relações necessárias para com a trama ou entre si.

Não precisa ser um expert para perceber que esse tipo de comédia certamente é uma herança do cinema mudo, baseando-se principalmente no caráter físico do humor, com caretas e trapalhadas, onde as situações mais engraçadas pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento da história. Talvez isso possa soar como uma crítica negativa a respeito desse modo de fazer humor, mas não me entenda mal, pois são poucos os que sabem fazer disso uma verdadeira obra-prima, e Jerry Lewis é um desses. Alguns dos melhores exemplos disso nos seus filmes são a cena em que tenta chamar o elevador em O Mensageiro Trapalhão – na verdade, este filme inteiro pode servir de exemplo –, a cena em que finge ser um delinquente em Delinquente Delicado (The Delicate Delinquent) e a cena em que chega à casa do seu professor de canto em O Otário (The Patsy).

Além desses momentos onde a capacidade de improvisação conta mais do que qualquer outra coisa, há outros momentos que fazem você notar o quão variado é o talento de determinado artista, somando outros tipos de entretenimento à comédia. Não é difícil assistir a um filme de Jerry Lewis onde ele cante – como em O Rei do Laço (Pardners) – ou dance – como em Cinderelo sem Sapato (Cinderfella). Outros exemplos de cenas em que é preciso muito ensaio e pouco improviso são a cena que ele se apresenta com uma banda em Bancando a Ama-Seca (Rock-a-Baby), a cena da performance de pantomima em O Mocinho Encrenqueiro e a famosa cena pantomímica com a música The Typewriter – tendo apresentado em diversas outras ocasiões, havendo até uma paródia no desenho animado Animaniacs – em Errado pra Cachorro (Who's Minding the Store?).

Agora falando mais especificamente sobre o filme a que esse post diz respeito, é interessante observar que Jerry Lewis soube aproveitar muito bem a sua grande porcentagem de controle sobre a produção, convidando vários atores de seu gosto para participações especiais no filme. Um deles é Jack Kruschen, que faz o papel daquele produtor-executivo sobre o qual falei no começo, que aparece na cena introdutória do filme, tendo recebido uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante naquele mesmo ano pelo filme Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment).

Porém, infelizmente, a principal dessas participações especiais não aconteceu. Jerry Lewis convidou o seu ídolo, Stan Laurel, o Magro de O Gordo e o Magro (Laurel and Hardy), para participar de O Mensageiro Trapalhão, interpretando o personagem que lhe consagrou. Entretanto, Laurel preferiu recusar amigavelmente o convite devido à sua idade avançada, mas se ofereceu para dar conselhos e sugestões durante a produção do filme, uma vez que era a estréia de Jerry Lewis na direção de um longa-metragem. Dessa forma, Lewis contratou seu amigo e parceiro de várias outras produções, Bill Richmond, para interpretar o Magro, mas fez questão de agradecer a todas as sugestões de Laurel, mesmo que algumas vezes não as acatasse, como foi o caso do título sugerido por ele.

Não podemos deixar de supor que o próprio personagem título do filme, interpretado por Jerry Lewis, é uma grande homenagem a Stan Laurel, pois o mensageiro trapalhão possui várias características semelhantes as do Magro, como o assobio, e até seu nome é o mesmo de Laurel: Stanley. Lewis admirava tanto o trabalho e a pessoa de Laurel que, já após sua morte, disse em uma entrevista: "Ele era alguém que eu acho que eles deveriam ter 'arranjado' para ter vivido para sempre. Eles deveriam ter dado um jeito de alguma maneira."

Bem, neste post eu acabei fazendo mais de uma recomendação de filme, pois na verdade a intenção é recomendar todo o trabalho de um artista. A escolha de O Mensageiro Trapalhão para o título é meramente ilustrativo, refletindo apenas a minha opinião do que exemplifica mais o seu estilo de fazer comédia. Enfim, para quem gosta de um humor simples, inocente e pateta, mas de ótima qualidade, desejo um bom filme!

Thiago César

domingo, 10 de julho de 2011

Queridinho Preto & Branco

Essa semana o post vai falar sobre o nosso “Queridinho Preto e Branco” muito utilizado pelos fotógrafos profissionais quanto pelos amadores. Certamente existem pessoas que não gostam de fotos em Preto e Branco, mas convenhamos que a maioria deva ter nem que seja uma foto em P&B em seus álbuns virtuais.

O Preto e Branco realça as formas e intensifica a mensagem representada na fotografia, talvez seja por isso que o P&B é “queridinho” de muitos fotógrafos. Além das máquinas digitais e celulares possuírem opções para tirar uma foto em preto e branco, existe outra forma de alcançar o mesmo resultado, utilizando programas de edição. Equilibrando o brilho, o contraste e escurecendo ou clareando alguns pontos da fotografia, você pode atingir um belo resultado.

Logo abaixo, postei uma foto tirada em P&B.

Modelo: Franciele Favacho

Modelo: Franciele Favacho
 #SeLigaNaDica

Top 13: dicas para tirar melhores fotos casuais com sua câmera digital ou celular 

*Dica da última postagem sobre fotografia que eu fiquei devendo para vocês :D 

5 Dicas para fotografar em Preto & Branco

- Programas utilizados para transformar em P&B

Lightroom 

Photoscape

- Parceria neste post:

http://www.efetividade.net/

http://fotografeumaideia.com.br/site/index.php


Thay Freitas 
Sentimento Letrado

 




domingo, 3 de julho de 2011

Menino do rio ou não da Martinália


Com o quadro invertido, Camila Travassos falando de literatura, falarei eu de música. Dessa forma, não poderia deixar de falar do álbum que mais me faz berrar cantando junto atualmente. O CD Menino do Rio, da cantora carioca Martinália.
Mostrando seu trabalho de composição e de interpretação, além das músicas de sua composição, ela mostra a diversidade musical que deriva de seu gosto e de suas amizades – canta clássicos e contemporâneos, do samba e da MPB: Martinho da Vila (seu pai e maior mestre), Jorge Agrião, Caetano Veloso, Guilherme Arantes, Ana Carolina, Arlindo Cruz, Moska, Leoni, Zélia Duncan etc.
Esse álbum vai aglutinar muitas das coisas que mais gosto: samba de raiz, sentimentalismo, alegria, entrega à paixão, percussão forte, grande apelo à letra da música e um grande louvor à mulher brasileira.
O samba de raiz é exaltado no começo do álbum com a melhor fase do Martinho, em suas músicas em homenagem ao mar e à Rainha da águas: “Prometi novamente voltar pra's águas/ Se a força do mar me vingasse as mágoas/ Esperei, me curvei/ e na terceira onda entreguei pra Jana/ Ína, meu amor!/ Vaidosa e brejeira, Mãe menina
A música da Ana Carolina, Cabide, é a mais ovacionada do álbum, pois foi junto com o bum da compositora nas rádios do país. Uma letra realmente impecável e um trabalho de percussão difícil de critica: “E se eu sumir dos lugares, dos bares, esquinas/ e ninguém me encontrar/ E se me virem sambando até de madrugada/ e você for até lá”.
Mas, para mim, a melhor música é da própria Martinália, chamada Pretinhosidade, que o refrão é incrível, mistura técnica de escrita, ritmo e encanto como poucos poetas: “Riscos vem à tona/ Eu pareço um otário/ Com você que é uma pedra em meu caminho/ Minha pedra preciosa/ Minha preciosidade, minha preciosa idade/ Minha presa/ Minha fé silenciosa, meu atalho ,meu destino/ Minha pretinhosidade, minha festa/ Minha seta, minha flecha
Encerro minha adoração com o verso que mais gosto, da Martinália também. Minha cara, tantas caras, de tantos caras como eu, meninos do rio ou não: “Talvez na solidão/ Eu possa ser mais feliz”.


CA Ribeiro Neto