Lima Barreto e João do Rio são dois grandes escritores do período que antecede o modernismo e que tem muitas semelhanças e antagonismos bem singulares. A primeira coincidência entre eles é o sobrenome. O verdadeiro nome do João é Paulo Barreto.
Os dois são mulatos, conseguiram seu reconhecimento graças a ajuda de outros mulatos e seguiram seu próprio caminho. Lima teve grande ajuda de Machado de Assis em seu começo; e do Rio contou com o auxílio de José do Patrocínio, cunhado de sua tia – que também era tia do pintor Di Cavalcante.
Lima se destacou mais nos romances, mas fazia crônicas também; João invertia esse quadro. Contudo, os dois tinham a mesma linha de falar das minorias. O primeiro tratou da questão racial, social, violeiros, doentes mentais etc.; o segundo tratou também de questões raciais e sociais, mas também da malandragem, da umbanda e do homossexualismo.
Aliás, esse é o primeiro ponto da diferença entre eles e o ponto que culminou na rixa que havia entre os dois. No primeiro livro do Lima – Recordações do Escrivão Isaías Caminha – o João do Rio é citado como sinônimo de homossexualismo. Do Rio realmente era, não assumia, mas também não negava. Enfim, João do Rio não gostou de ver sua intimidade revelada em um livro. Eles até trocaram algumas farpas via crônicas, na época.
A vida amorosa deles é bem oposta também. Enquanto o do Rio pegava geral, homens e algumas mulheres, de vez em quando, não há registro de mulheres na vida de Lima, sem contar prostitutas que naturalmente ele deve ter utilizado dos favores. A semelhança entre eles, nesse ponto, está no fato de que nenhum dos dois se casaram, cada um por seu motivo. Do Rio viveu sempre com sua mãe; e Lima, que perdeu sua mãe quando ainda era criança, viveu sempre com uma irmã.
Os dois têm livros na lista dos três livros que melhor falam do Rio de Janeiro: o já citado Isaías Caminha, do Lima Barreto; o A Alma Encantadora das Ruas, do João do Rio; e O Cortiço, do Aluísio de Azevedo.
Entre os livros que mais se destacam de cada um, Lima tem o Triste Fim de Policarpo Quaresma (trata do respeito de opinião), Clara dos Anjos (trata do preconceito social) e Cemitério dos Vivos (romance baseado no período em que ficou internado em um hospício). Já João do Rio tem como sua obra mais conhecida o A Alma Encantadora das Ruas (que trata das minorias nas ruas do Rio), mas também tem As Religiões do Rio (um estudo jornalístico-literário das religiões na cidade) e Dentro da Noite (contos que tratam da busca pelo prazer nas formas mais diferentes possíveis).
Os dois marcaram a história da literatura por falarem sobre algo que ninguém falava. Numa área bem elitista, ver uma ascensão social dessa forma era caso raro.
O mais curioso de tudo na relação desses dois é a relação de como eles eram vistos na época e como são vistos agora. Lima Barreto é notadamente reconhecido hoje, mas na época, seu reconhecimento foi póstumo, morrendo praticamente sozinho e desconhecido.
João do Rio, hoje em dia, é um desconhecido. Mas em sua época, ele era um dos escritores mais ativos, lembrados e queridos. Para se ter uma ideia, seu enterro foi acompanhado por mais ou menos 100 mil pessoas e os taxistas, nesse dia, trabalharam de graça, indo do velório para o enterro.
Hoje eles estão sendo relembrados por novas publicações de suas obras, principalmente pelo fato de que os dois conseguiram fazer o que todo grande escritor deve fazer: se destacar por escrever algo realmente inédito e de uma forma única.
CA Ribeiro Neto
6 comentários:
já li.
Diferente do Thiago, eu ainda não li nenhuma obra dos autores que intitulam o seu post. Mas lembro muito bem dos encontros do Grupo Eufonia você citar João do Rio. E com muito entusiasmo!
Belo post!!
:D
Cabeça, você leu esse texto no meu blog, mas não comentou! Podia fazer isso dessa vez! E, sim, eu conferi!
Thay, João do Rio é demais, é uma pena ser tão pouco conhecido...
eu tinha comentado sim, sempre comento!
procura direito lá!
=P
Será que até aqui nesse blog eu vou ter que usar a minha autoridade de professora pra colocar os dois rapazes pra fora de sala e ver se assim vocês param de discutir?? ¬¬
Problemas DO Blogs de Quinta vocês resolvem NO Blogs de Quinta... ¬¬
Quanto ao seu texto, Carlinhos, acho que mencionei antes de não conheço o João do Rio e pouco coisa sobre o Lima Barreto. Por falha minha mesmo. Sou mais ligada em escritores mais contemporâneos. Entretanto, dicas como essa são sempre muito bem vindas.
eh o bom, tu conferiu?
blz, vou comentar embora eu nao tenha muito o q dizer jah q nao sou leio nada...
interessante comparação, serve muito para quem se interessa por ambos os autores ou por só um deles, mas ker conhecer o outro!
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